Saúde

Covid-19: como é estar grávida na pandemia

Ginecologista ressalta cuidados que as gestantes devem tomar para se proteger do vírus; mulheres contam como é gestar e parir nesse cenário de incerteza e isolamento

Publicado em 25 de junho de 2020 | 19:45

 
 
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A gravidez já é um momento de muitas dúvidas e incertezas. Durante nove meses, a mulher vive intensas sensações e preocupações com sua saúde e a  do bebê, mas, diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a situação se tornou ainda mais complexa. Embora não existam ainda confirmações científicas de que exista a contaminação intrauterina – quando a mãe passa o vírus para o bebê na barriga – os cuidados das gestantes nessa fase devem ser ainda mais intensificados. 

Com medo do vírus e dos desdobramentos da doença, muitas mulheres que planejaram engravidar neste ano decidiram adiar o sonho da maternidade até que o cenário esteja mais favorável. Outras, como a empresária Inahê Zaidan Drumond, 30 anos, tiveram que mudar os planos do parto. “Queria muito deixar o bebê vir na hora que ele estivesse pronto e tentar o parto normal, mas, em 2019, sofri um aborto espontâneo e uma violência obstétrica em um hospital particular de Betim. Com isso, além do medo da pandemia fico com medo do desenrolar do parto. Por isso, decidi agendar uma cesárea, mesmo não sendo o que eu idealizei”, contou.

De acordo com o ginecologista e obstetra Gustavo Alvarenga, não existe nenhuma recomendação oficial dos órgãos de saúde referente ao planejamento familiar neste momento de pandemia – ao contrário do que aconteceu na época da Zika Vírus, quando foi amplamente debatido e indicado o desencorajamento das mulheres que queriam engravidar. “Não sabemos muito sobre o coronavírus ainda, mas, por enquanto, cientistas do mundo inteiro não encontraram nenhuma comprovação de que as mulheres grávidas tenham mais riscos de complicações. Tenho algumas pacientes grávidas que testaram positivo para a Covid-19, mas nenhuma delas evoluiu para um quadro mais crítico de saúde. Até então, todas conseguiram se tratar em casa mesmo”, revelou.

Nos últimos meses, Alvarenga percebeu uma queda no número de primeiras consultas, mas garantiu não ser um número expressivo. “É difícil falar em dados, porque existem épocas do ano em que mais mulheres realmente engravidam, mas a verdade é que a redução foi bem baixa. No início da pandemia realmente acreditei que as mulheres iriam se resguardar nesse período, mas, com os casais ainda mais próximos em casa, devido o isolamento social, os atendimentos estão acontecendo em um volume normal”.

O ginecologista ressalta a importância de as gestantes não suspenderem as consultas de pré-natal. “É compreensível o medo de se contaminar ao sair de casa, mas é imprescindível que os exames sejam mantidos para evitar complicações ainda mais sérias no decorrer da gravidez. Os consultórios estão seguindo os padrões determinados pelos órgãos de saúde, como o espaçamento entre as consultas, a disponibilização de álcool em gel e a restrição no número de acompanhantes. Além disso, as gestantes devem respeitar ao máximo o isolamento social, evitar aglomerações e seguir as recomendações de higienização, além do uso da máscara sempre que precisarem sair”, pontuou.

Quanto ao medo de engravidar neste momento e adiar os planos, Alvarenga ressalta que, cada caso precisa ser avaliado isoladamente. “A orientação que tenho dado às minhas pacientes é que, se as condições clínicas permitirem, a conduta mais prudente é de esperar mesmo a pandemia passar. No entanto, existem aquelas mulheres que estão no limite da idade fértil e que, se não for agora, talvez não tenham mais chances de engravidar. Então é importante discutir todas essas questões com o médico de confiança para tomar a decisão mais assertiva”, ponderou.

Isolamento e preocupação com o parto são desafios

Grávida de 39 semanas, a empresária Inahê Zaidan Drumond, conseguiu fazer o chá de fraldas quatro dias antes da pandemia ser decretada, mas a rotina e os planos mudaram completamente. “Segui fazendo todos exames e só saio de casa para isso. Minha loja fica em um shopping e não posso nem ir até lá, então estou trabalhando de casa e tendo contato com minha mãe e minha sogra apenas, que também estão seguindo o isolamento à risca. Não temos informações contundentes quanto aos efeitos do vírus nos bebês e não quero me expor. Até mesmo por isso, abri mão do parto normal e agendei a cesárea”, lamentou.

Além dos medos e da insegurança, Inahê também está precisando lidar com a ausência dos amigos nesse momento tão especial. “Não era isso que eu imaginava para esse momento, mas sigo grata e tendo consciência dos meus privilégios. Graças a Deus estamos saudáveis. Sei que têm muitas pessoas passando por coisas muito piores, em outra realidade, então, mesmo diante desse caos que essa pandemia causou, só posso agradecer”, finalizou.
 

Rotinas e planos mudados pela Covid-19

No ano passado, quando descobriu a gestação, a atendente Lorrane Fauez Soares Silva, 27 anos,   não imaginava que enfrentaria uma pandemia nas semanas finais da sua gestação. Na época, o susto ficou por conta do ultrassom, que revelou uma gravidez gemelar. “Não estava planejando engravidar, mas ficamos muito felizes. Fizemos o chá de bebê em fevereiro e, logo em seguida veio o isolamento social. Sofri algumas crises de ansiedade, mas procurei me controlar. Logo em seguida, como alternativa, meu marido e eu decidimos nos mudar para a casa da minha sogra, que seria quem me ajudaria com as crianças e, em maio, eles nasceram cheios de saúde”, contou.

No entanto, além das preocupações que tomaram conta no final da gravidez, agora Lorrane vive a solidão do início da maternidade ainda mais intensa para proteger os filhos. “Ficamos só em casa e limitamos o número de visitas que podem nos ver. A maior dificuldade tem sido neste sentido. Muitos familiares ainda nem conheceram os bebês e, a ajuda que contávamos que iríamos receber, ficou bem restrita”.