Acontece por aí?

Pandemia reforça mania de limpeza e organização

Preocupação com a higienização dentro de casa tem despertado e intensificado hábitos no dia a dia; especialistas alertam para o desenvolvimento de transtornos

Publicado em 09 de julho de 2020 | 21:13

 
 
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Higienizar as mãos, deixar os sapatos do lado de fora de casa ao chegar da rua, lavar todos os itens que vêm do supermercado, limpar as superfícies com álcool 70%. Nos últimos meses, devido à pandemia do novo coronavírus, esses cuidados passaram a fazer parte da rotina da maioria dos cidadãos brasileiros.

Na casa da nutricionista Pâmella Ribeiro Vieira, 36, não tem sido diferente. Isolada com o marido e com duas crianças em casa, sendo que o mais novo tem 9 meses e está na fase de engatinhar pelo chão, ela redobrou os cuidados com a organização e com a limpeza do apartamento onde moram, no bairro Angola, nos últimos dias. "Sempre gostei das coisas organizadas, mas, de fato, até mesmo pelo medo do vírus, me pego passando pano na casa com água sanitária e desinfetante duas vezes ao dia, por exemplo. Também coloco todas as frutas e verduras em solução sanitizante, e deixamos uma caixa na área de serviço, onde colocamos as correspondências por um tempo seguro antes de abri-las”, revelou.

Com tantos cuidados para garantir a segurança da família, Pâmella também precisa lidar com o cansaço e o esgotamento físico. “Não tem sido fácil, principalmente para as crianças. Às vezes me sinto um pouco 'neurótica', questiono internamente se estou exagerando, mas prefiro pecar pelo excesso de cuidados. Meu marido até brinca que vou deixá-lo maluco com tantos protocolos”, contou.

No bairro Ingá Alto, a servidora pública aposentada Silvana Costa Silva, 59, também tem tomado todos os cuidados para manter a casa em ordem e devidamente higienizada. “Sempre fui muito organizada e cheia de manias com a limpeza da casa, mas, nos últimos tempos, lavo toda a mercadoria que chega, por exemplo, inclusive as bananas. Quando uso meu cartão bancário, logo higienizo com álcool”, pontuou.

Assim como Pâmella e Silvana, devido ao isolamento social, que faz com que as pessoas tenham mais tempo para cuidar da casa, dezenas de pessoas estão reforçando ou criando hábitos intensos de organização e de limpeza, diversos especialistas vêm alertando para a tênue linha entre uma simples mania e um Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), por exemplo.

Outros sintomas
A psicóloga Silvânia de Jesus Pereira salienta que é importante pontuar que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) tem ressaltado a necessidade da higienização total em todos os aspectos, levando assim uma intensificação de rituais de limpeza, que podem ou não ser considerados transtornos psíquicos. 

No entanto, segundo ela, o excesso de limpeza e higienização total pode ser indício de problemas mentais, como também pode ter sido causado pela atual situação mundial referente ao isolamento e ao distanciamento decorrente da pandemia. “As regras básicas de higiene e limpeza podem ser algo maior quando essa limpeza começa a ser excessiva e quando vem atrelada a outros sintomas, como ideias delirantes, compulsivas e obsessivas, medo irracional sobre os eventos recorrentes, dificuldade de executar atividades como estudar e trabalhar”, observou.

Excesso acende alerta
Silvânia ressaltou que, caso os familiares ou a própria pessoa percebam que há um excesso na tomada de medidas a respeito das recomendações de higiene e limpeza, os serviços de saúde mental e profissionais da área da psiquiatria devem ser consultados, para se averiguar esse excesso e se ele provém de algum transtorno. “Percebemos um aumento de queixas relacionadas aos transtornos mentais mais comuns como ansiedade, depressão, transtornos alimentares, estresse pós-traumático, uso e abuso de álcool e outras drogas, entre outros, mas também notamos que os pacientes que chegam com a demanda de tratamento, informando que já possuem um diagnóstico de TOC, vêm na busca de um melhor entendimento de como lidar com as questões referentes ao cenário atual de pandemia e as angústias geradas pelo isolamento social”, disse.
 

Cuidados básicos na higienização
Além de lavar as mãos com frequência e usar máscara ao sair, a pessoa deve limpar dentro de casa seguindo algumas recomendações básicas para garantir a proteção contra o vírus. Primeiramente, é indicado retirar os calçados antes de entrar na residência e deixá-los em uma caixa separada. A limpeza do local deve ser efetuada, se possível, com mais frequência. Utilize desinfetante ou uma solução de vinagre e água para limpar o piso. Nas superfícies, álcool 70% pode ser empregado.

Busca por higienização cresce
A demanda por serviços de desinfecção, higienização e sanitização tem aumentado nos últimos meses. Com medo do vírus, muitas famílias, principalmente com pessoas do grupo de risco, têm buscado mecanismos para garantir a segurança e o conforto dentro das casas. Nas últimas semanas, de acordo com o biólogo e técnico em meio ambiente que trabalha na dedetizadora Ebenézer, Jackson Pereira de Oliveira, alguns orçamentos domiciliares para sanitização e higienização foram feitos, e, nos ambientes comerciais, os serviços têm sido executados constantemente. “Antes de qualquer coisa preferimos orientar os clientes quanto à real necessidade da contratação do serviço. Os lojistas, especialmente, têm buscado essa alternativa como maneira de garantir mais segurança aos clientes”, afirmou. 

A empresa tem usado o mesmo princípio ativo empregado no controle da pandemia na China. “O rapaz que faz a aplicação vai devidamente equipado com todos os EPIs, como macacão especial, máscara com filtro, luvas e galochas. Ele faz a pulverização nos rodapés, nas cortinas, em todas as áreas de contato direto, como maçanetas de portas e corrimãos”, revelou.