Estudo científico

Mulheres são as mais afetadas pela Covid-19 em Betim

Pesquisa, feita por amostragem, da prefeitura em parceria com a UFMG traçou o perfil da população em relação à circulação do novo coronavírus; parte dos positivos tinha comorbidade

Publicado em 31 de agosto de 2020 | 19:09

 
 
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A pesquisa realizada pela Prefeitura de Betim, na região metropolitana, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que teve como objetivo mapear a circulação do novo coronavírus no município, constatou que a prevalência da maioria dos casos positivos constatados na cidade foi em mulheres, pessoas da cor parda e indivíduos com ensino médio e fundamental.

O levantamento foi feito em três rodadas (de 3 a 5 de junho, de 23 a 25 de junho e de 13 a 15 de julho) e testou 1.080 moradores em cada etapa, totalizando 3.240 participantes de todas as faixas etárias e regiões. Para realizar o levantamento, feito por amostragem da população, o município foi dividido em 36 áreas com base nos setores censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de densidade demográfica. Cada participante foi submetido a dois exames: o teste rápido e o RT-PCR.

Em todas as etapas, as mulheres foram as mais afetadas pelo novo coronavírus. Na primeira rodada, os cinco casos positivos foram todos do sexo feminino. Na segunda rodada, as mulheres representaram 51,7% dos positivos, e na terceira etapa, 68,1%.

“Percebemos que, à medida que o vírus foi circulando, foram acometidas mais mulheres do que os homens. Com esse resultado, foi criado um grupo de estudo para analisar os fatores que resultaram nessa situação, como o tipo de profissão, se ficam mais expostas ao risco de contágio, e local onde vive, por exemplo. E há outra questão, que são as mulheres com comorbidades. Na terceira rodada, por exemplo, 21% dos casos positivos eram de pessoas do sexo feminino com doenças preexistentes. E quando a gente cruza esses dados com os do boletim epidemiológico, a gente vê que as mulheres com comorbidades lideram o número de óbitos”, disse a enfermeira da Rede SUS de Betim, Ana Valesca Fernandes, uma das coordenadoras da pesquisa.

Outro cenário contatado é que o perfil na maioria dos infectados é formado por pessoas que se declararam da cor parda, além de moradores que possuem apenas o ensino médio ou fundamental. “Quanto menor o grau de instrução, a tendência é de essas pessoas terem um emprego que as colocam mais ao risco de contágio, ou até mesmo, de serem informais. Se a escolaridade for maior, a tendência é que haja menos exposição, até porque muitas dessas profissões que exigem mais instrução se adaptaram às novas relações de trabalho, como o home office”, completou o secretário adjunto de Gestão à Saúde, Augusto Viana.

Ao contrário da primeira rodada da pesquisa, em que 100% dos casos positivos eram de pessoas assintomáticas, nas duas fases seguintes, essa situação se inverteu. A maioria dos positivos tiveram sintomas (55% na segunda etapa, e 58% na terceira).

 

Tipo de linhagem

A pesquisa agora vai analisar o tipo de linhagem do vírus que circula em Betim, para saber se houve um ou vários tipos de coronavírus nos moradores. “Isso ajudará a entender a forma de disseminação do vírus na cidade. Os dois primeiros casos foram de pessoas que estavam na Espanha. Os outros dois casos seguintes foram de pessoas que estiveram no Rio de Janeiro. Betim é cortada por rodovias, pela Via Expressa, e tem muitas indústrias, o que resulta em uma grande circulação de pessoas de várias partes de Minas e do país. A gente supõe que há mais de um tipo de coronavírus circulando, mas é uma hipótese que os estudos ainda vão analisar”, completou o secretário.

O resultado do levantamento científico também foi compartilhado com instituições internacionais. A metodologia da pesquisa realizada em Betim, que foi aplicar dois tipos de teste em cada participante, fazer o levantamento por amostragem da população, sem deixar nenhum grupo de fora, em três períodos diferentes e contemplando todas as regiões do município, chamou a atenção, já que retratou uma situação mais fiel da cidade.

"Os dados coletados aqui foram apresentados a pesquisadores e cientistas do Imperial College, de Londres, e da Universidade de Oxford, também da Inglaterra. São dois grandes centros de pesquisa. Ou seja, a nossa pesquisa foi bem reconhecida pela comunidade internacional”, destacou Ana Valesca.