Solidariedade

Nasce bebê gerado pela tia para ajudar a irmã que não podia ter filhos

Servidora de Betim realizou nove fertilizações in vitro, mas não deu certo. Irmã dela emprestou a barriga para gerar Dante, que nasceu nesta quinta (18), pesando 3,6 quilos

Publicado em 18 de fevereiro de 2021 | 15:54

 
 
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Pesando 3,6 quilos e medindo 49 centímetros, Dante nasceu na manhã desta quinta-feira (18), na Maternidade Otaviano Neves, em Belo Horizonte, saudável e bonito. O bebê, cujo nome vem do italiano e significa duradouro, nem imagina a luta que seus pais, o engenheiro civil Daniel Flávio Mendes Ferreira, 43, e a servidora Solana Guimarães Henrique do Amaral Ferreira, 39, que moram em Betim, tiveram que enfrentar para que ele enfim nascesse. 

Dante foi gerado pela tia, a engenheira eletrônica Anaterra Guimarães, depois que Solana passou por nove fertilizações in vitro e perdeu todas as seis gestações, inclusive uma de gêmeos. Solana e Daniel passaram por clínicas de fertilização em Belo Horizonte e em São Paulo, entre 2012 e 2019. 

“Era um processo muito sofrido. A gente fazia o ultrassom, chegávamos a ouvir o coração do bebê várias vezes, mas entrava na nona semana da gestação, perdíamos o bebê. Quando íamos fazer o ultrassom já ficávamos apreensivos”, contou Daniel. 

Segundo ele, nenhum médico apontou um problema específico porque a gestação não fosse adiante. "Meu problema não tem diagnóstico, é uma incompatibilidade no meu útero. Eu pensei em desistir muitas vezes, inclusive já tinha aceitado que não iria ter filhos, mas o Daniel nunca me deixou desistir”, contou Solana.

Nesse período, Anaterra já tinha se oferecido para gerar o filho da irmã, emprestando sua barriga de forma solidária. “Toda vez que ela perdia, eu oferecia, porque era um sofrimento muito grande. Mas ela nunca quis. Acho que ela queria gerar o próprio filho, até que depois de perder o último bebê, eles aceitaram. Fiz a primeira fertilização antes da pandemia e não deu certo. Aí a clínica fechou e, quando reabriu, tentamos novamente e deu certo. Deus abençoou”. 

Anaterra, que já tem uma filha de seis anos, a Cecília, disse que se sente realizada em poder realizar o sonho da irmã. “Eu sei o quanto é bom ser mãe. Por isso, me sinto realizada de poder contribuir para a minha irmã ter o Dante agora. Meu marido (Jean Felipe) também foi um grande companheiro, e disse que, se fosse irmão dele, também faria o mesmo. Deus agiu em mim para eu poder proporcionar isso a minha irmã”.

A família agora comemora o nascimento de Dante. “O sentimento é de muita gratidão. A gente rezou muito durante esses anos e eu nunca perdi a fé. Sei que é isso que Deus queria que acontecesse com a gente, poder ter o meu filho através da minha irmã. É uma prova de amor imenso. E vou ser sempre grata a ela por me dar essa oportunidade de ser mãe”, conclui Solana. 

Fertilizações in vitro crescem 

O número de fertilizações in vitro tem crescido no país. Segundo relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões, em 2018, foram realizados 43.098 ciclos de fertilização in vitro (Fia) no Brasil, contra 36.307 em 2017, um aumento de 18,7% na quantidade de procedimentos.

Nesse tipo de procedimento, que é o que aconteceu com o casal de betinenses, ocorre a transferência dos embriões para o útero através de um cateter delicado. Já no caso da inseminação artificial, o sêmen é coletado, preparado e transferido para o interior do útero enquanto a mulher está ovulando. Lá os espermatozoides terão que chegar até as tubas uterinas, encontrar os óvulos e fertilizá-los, formando o embrião. O sucesso de um procedimento de reprodução assistida depende de diversas variáveis. Porém, a média de sucesso é de 45% na FIV e de 25% a 30% na inseminação.

O procedimento ainda é muito caro. Segundo Daniel, cada um chega a custar entre R$ 20 mil a R$ 30 mil. “As clínicas de fertilização têm até programas para casais que não possuem condições financeiras para arcar com o tratamento, mas que são muito restritos. Acho que deveria haver um programa federal para ajudar as mulheres que não têm condições de arcar com esse processo”, afirmou o engenheiro.
 

Barriga solidária

De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) de número 2.168/2017, a paciente que será barriga solidária deve pertencer à família de um dos parceiros, em parentesco consanguíneo até o quarto grau (mãe, filha, avó, irmã, tia, sobrinha ou prima).

Segundo o CFM, o procedimento é ético desde que não haja transação comercial ou lucrativa. Já em outros países, não é preciso ser parente para poder gerir o filho de outro casal, e muitas mulheres são pagas para isso. 

Nos EUA, mais de 10 mil bebês nasceram por meio de barriga de aluguel gestacional entre 2010 e 2014. A indústria, avaliada em US$ 6 bilhões globalmente em 2018, deve chegar a US$ 27,8 bilhões em 2025, de acordo com a Global Markets Insights. 

Na opinião de Daniel, a legislação brasileira também poderia ser mais abrangente. “A lei é muito restritiva. Em outros países, é possível alugar uma barriga, o que aumentaria a oportunidade de mais casais que não podem engravidar de conseguirem realizar o sonho de ter filhos”.