Covid-19

Prefeitura de Betim abre auditoria para apurar caso sobre deputado fura-fila

Professor Irineu, 63, burlou triagem de UBS para se vacinar na quarta, segundo Executivo municipal

Publicado em 15 de abril de 2021 | 23:37

 
 
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A Prefeitura de Betim informou que instaurou uma auditoria assistencial para apurar a denúncia de que o deputado estadual Professor Irineu, do PSL, furou a fila da vacinação contra Covid-19 em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na cidade. O parlamentar, que tem 63 anos, confirmou que foi imunizado com a Coronavac, por volta das 14h de quarta (14), no posto Vila Cristina, mesmo estando o município, até o momento, vacinando somente  pessoas com 65 anos ou mais, além de profissionais da linha de frente no combate à doença. 

Em nota, o Executivo municipal declarou que tomou conhecimento do caso, na manhã de quinta (15), por meio de denúncia feita na Ouvidoria Municipal, e que, imediatamente, começou a apurar o caso. O resultado será divulgado até dia 22 de abril. Além disso, a prefeitura designou um auditor da Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde para garantir que todo o processo de imunização da unidade ocorra conforme o fluxo regular obrigatório.

De acordo com as primeiras apurações, o parlamentar teria burlado a triagem, se dirigindo diretamente à sala de vacinação da unidade de saúde sem, antes, passar pela triagem onde são conferidos todos os documentos dos usuários. O Executivo assegurou ainda que, depois de identificados todos os responsáveis pela vacinação irregular, as medidas cabíveis serão tomadas com o máximo rigor.

“Somente após a aplicação da vacina, os profissionais de saúde confirmaram que o mesmo não pertence ao grupo cuja faixa etária é contemplada, atualmente, pelo Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde”, esclareceu a prefeitura.

À reportagem, o parlamentar alegou que um dos seus assessores teria ligado para a UBS Vila Cristina e que uma das funcionárias, que não teve o nome revelado, teria dito que a unidade estava imunizando pessoas com 63 anos. Por isso, o político disse que se dirigiu ao posto. Contudo, ao chegar na UBS, Irineu afirmou que entregou seu documento de identificação e comprovante de endereço e que, neste momento, foi informado que a orientação recebida anteriormente não procedia. 

“Porém, uma das funcionárias disse que, assim como outras três pessoas que lá estavam, eu poderia esperar, pois haviam duas pessoas agendadas para serem imunizadas e que, caso sobrassem doses, seríamos imunizados. Após 20 minutos, ela me chamou e disse que eu poderia entrar, porque sobraram doses e que eu seria imunizado”, relatou Irineu. 

O professor Irineu afirmou também que possui residência na região do Bandeirinhas. Contudo, conforme levantamento feito pela reportagem, o endereço do imóvel não consta na prestação de contas dele ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando ele foi candidato à Prefeitura de Contagem, em 2020. Na versão do político, divulgada em uma nota na quinta (15), Irineu esclareceu que a residência constará na declaração do novo Imposto de Renda. 

Na publicação, o deputado alegou  ainda que não houve nenhuma ilegalidade na sua vacinação, uma vez que ele foi imunizado e recebeu o comprovante com a marcação da segunda dose da vacina, agendada para o dia 15 de maio. “Estou doido para me vacinar, assim como todo mundo. Mas tenho muita responsabilidade. Se não pudesse, esperaria mais semanas, sem problemas. Ao chegar no posto, não me identifiquei como deputado e ninguém me perguntou ou questionou nada. Não conheço ninguém de la nem usei da minha autoridade para receber a dose. Cheguei como cidadão comum e, inclusive, fui muito bem atendido. Não fiz nada pensando burlar, fui lá para procurar a vacina”, contou.

O deputado disse ainda que não  tinha ideia que  só poderia ser vacinado em uma unidade de referência onde ele  tem  residência e, não, no Vila Cristina, UBS distante Bandeirinhas. “Lamento  toda esta tempestade, mas, entendo, faz parte da vida pública”, argumentou o deputado Irineu à O Tempo Betim. 

Pente-fino

O deputado estadual João Vitor Xavier (Cidadania), que está à frente da comissão da CPI dos Fura-Filas, instaurada na Assembleia Legislativa, disse que não houve denúncia formal sobre o caso na Casa e que soube por meio da imprensa. Ele explicou que aguardará a apuração que está sendo feita pela prefeitura, mas afirmou que solicitou uma consultoria ao corpo técnico da CPI da Assembleia para acompanhar o caso. Segundo ele,  se for preciso qualquer apuração complementar, eles tomarão as medidas cabíveis.

“Não estamos aqui para passar a mão na cabeça de ninguém, seja essa pessoa quem for, nem para fazer pré-julgamentos. Por isso, caso seja comprovada qualquer irregularidade, penso que ele tem que responder como qualquer cidadão comum”, declarou. 

A Ouvidoria Geral do Estado informou que as denúncias que recebe são sigilosas e que, com isso, não pode confirmar se o caso envolvendo o deputado Irineu chegou até o órgão. A pasta informou que, até então, recebeu 1.618 relatos sobre supostos “fura-filas” em Minas. 

Histórico

O deputado Irineu foi vereador em Contagem durante três mandatos, e assumiu o cargo de deputado na Assembleia Legislativa em 2019. Com formação em matemática e atuação como professor em Contagem, o político tem defendido, em suas redes sociais e na ALMG, a inclusão dos educadores na fila prioritária da vacinação em Minas Gerais.