Em Betim

Trabalho que encurta distância e ajuda a salvar vidas da Covid

Psicólogos e assistentes sociais contam como é dividir a dor da perda e os momentos de superação com quem está internado

Publicado em 08 de abril de 2021 | 21:13

 
 

“Sigo me esforçando a cada plantão, apostando no atendimento humanitário e multidisciplinar. Coloco minha dor no bolso para acolher com muito amor a dor do outro”. É assim que a psicóloga Samira Guimarães descreveu como tem sido a sua rotina nos últimos dias, no período mais crítico da pandemia, no Centro de Cuidados Intensivos (Cecovid 4) – unidade criada pela prefeitura para tratar os casos de pacientes mais graves com coronavírus. 

Samira compõe uma equipe formada por quatro psicólogos e quatro assistentes sociais que se desdobra todos os dias para tentar diminuir a dor e a incerteza do futuro perante a doença e para ajudar a reduzir a distância entre os pacientes e familiares, que não podem acompanhar nem fazer visitas na unidade. As videochamadas feitas pelo celular são o meio encontrado para aproximar os parentes e ajudar na recuperação dos infectados. 

Ao longo desse um ano de pandemia, esses profissionais viram muitos casos de superação e também de dor e tristeza pela perda de pacientes. 

Para a psicóloga Mislene Simões, que trabalha no Cecovid 4 desde a abertura da unidade, um caso marcante foi a recuperação do soldador Jonatas Almeida, que ficou 43 dias intubado na UTI. “Lembro da alegria dele ao caminhar depois de tanto tempo internado. Isso me emocionou bastante, assim como o caso do pastor Saulo Rezende, que ficou mais de 100 dias internado. Por vezes, achamos que ele não iria resistir”. 

Mislene considera fundamental esse papel dos psicólogos e assistentes em ajudar a reduzir a distância entre pacientes e seus parentes. “As pessoas ficam muito assustadas quando são internadas com Covid, e nós fazemos esse papel de ajudar no apoio ao paciente e de ser essa ponte entre o ambiente hospitalar e a família. Com isso, ficamos muito próximos das famílias”, contou. 

Superação da doença
A técnica de enfermagem Chirlei Maria Rodrigues, que foi internada no Cecovid 4 e ganhou alta nesta quinta-feira (8), disse que o apoio psicológico recebido foi fundamental para superar a doença. “Fui recebida com muito carinho e tive um apoio psicológico muito grande. Todos lutaram por mim. Sem esse acompanhamento, eu não conseguia superar a Covid. Como a gente fica distante da família, as videochamadas são fundamentais, ajudam a autoestima e nos dão força para vencer a doença”, contou.

Samira Guimarães, que está no Cecovid 4 desde julho, também ressalta a importância do apoio psicológico. “O trabalho do psicólogo é fundamental, essencial, é a única possibilidade de contato entre a família e o paciente. E esse contato é muito importante, principalmente para os pacientes já mais idosos, que, com 48 horas de internação, entram em um quadro de confusão mental, por estarem longe de casa, da rotina deles. Por isso, a videochamada é muito importante para ele não se sentir abandonado. Ela encurta a distância, fortalece esse elo de amor, de confiança. O medo que o paciente fica de não superar a doença é muito grande. Por isso, na videochamada é o momento que ele tem de falar coisas que gostaria de dizer. É aí que surgem pedidos de perdão, declaração de amor, revelações. Enfim, esse trabalho é a única forma de encurtar a distância”, ressaltou.