Comportamento

Como a internet influencia no dia a dia das crianças?

Pesquisa aponta que 89% das crianças e dos adolescentes são usuários assíduos e psicóloga ressalta que é importante manter o equilíbrio

Publicado em 10 de junho de 2021 | 22:48

 
 
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“Olá galerinha, tudo bem com vocês?”. Quem convive com crianças com idade acima de três anos certamente já ouviu essa frase com a entonação clássica dos youtubers e digitais influencers. Para além disso, quem nunca se derreteu e compartilhou conteúdos nas redes sociais envolvendo crianças? Elas realmente são uma graça e têm a criatividade acima da média.

E, ultimamente, um desejo quase unânime entre os pequenos é ter um canal no YouTube ou uma página na internet.  Para se ter uma ideia, segundo uma pesquisa realizada pelo TIC Kids Online Brasil, divulgada em 2020, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, no Brasil, 89% das crianças e dos adolescentes são usuários assíduos de internet.

Esses dados refletem questões que dividem as opiniões das famílias. Muitos acreditam que o mundo virtual não é um lugar seguro e ideal para os pequenos. Outros acreditam que essa nova geração já nasceu inserida no contexto tecnológico e, ao tentar mantê-los distantes das telas, isso poderia, inclusive, ser prejudicial para seu o desenvolvimento.

Diante dessa situação, a advogada Eduarda Frederico Duarte Arantes, 30, pesou os prós e contras e decidiu apoiar a filha, Sophia Frederico Almeida Duarte Arantes, de 8 anos, na criação de uma pagina no Instagram. “Comecei a notar que ela brincava de gravar vídeos e mostrava a rotina dela, dando dicas para o “pessoal”. Era uma brincadeira e qualquer objeto virava uma câmera”, contou.

Atualmente, Sophia tem 1.078 seguidores em sua página, que é monitorada pela mãe diariamente, onde ela posta vídeos com a sua rotina e também brinca com a irmã mais nova. Apesar de não ver problemas na relação da filha com as telas, a mãe decidiu tomar algumas providências para garantir a integridade da menina. “Sempre permiti acesso às telas, não tenho problemas com isso, desde que seja com limite e disciplina. Como tudo na vida, entendo que deve ter equilíbrio e limites e, para isso, o acesso do público externo e o dela próprio é controlado para que possa ser saudável e não tenhamos exposições inadequadas”, afirmou.

Preocupação
O mesmo acontece na casa da profissional da educação, Magali Bermudez, que cuida do neto, de 4 anos, e precisou aprender a lidar com essa nova faceta infantil, que envolve a tecnologia. “Ele é apaixonado com os canais de YouTube. Reproduz as falas até com o sotaque e as brincadeiras. Tudo que acontece ele mesmo pede para filmar”, revelou. 

Segundo Magali, a vida do neto não se limita aos aparelhos tecnológicos e ele gosta de brincar na rua com os amigos, jogar bola e ouvir histórias. Ainda assim, ela se diz preocupada com o impacto desses conteúdos no dia a dia. “Minha filha seleciona os vídeos que ele pode ver só no YouTube Kids e por pouco tempo, mas me preocupa o incentivo ao consumismo, a influência na fala, e o quanto suga a criança a ficar presa a isso”, reforçou. 

 

Pais precisam ter cautela

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) alertam para os riscos da alta exposição de crianças às telas de equipamentos eletrônicos, como celular, computador, televisor e tablet. Na pandemia, essa exposição, que já era alta, de acordo com eles, aumentou, pois muitas famílias acabam recorrendo a esses dispositivos para conseguirem trabalhar e entreter as crianças, que passam mais tempo em casa. 

A situação, que no ano passado, quando o vírus começou a circular no Brasil, foi vista como passageira, agora é alvo de preocupação. “A questão é que o uso da tela se tornou muito mais que uma alternativa, tornou-se a única via e isso nos preocupa”, diz a coordenadora do Programa Primeira Infância Plena da UFMG, Delma Simão.

A pesquisadora explica que até 1 ano de idade não é recomendada nenhuma exposição à tela. Depois disso, a indicação varia conforme a faixa etária sendo que, até os 6 anos de idade, período que corresponde à primeira infância, as crianças não devem passar mais do que duas horas por dia na frente de dispositivos eletrônicos.  “Quanto mais uma criança fica conectada à tela, mais desconectado é o cérebro da criança, então mais difícil é para essa criança tomar decisões adequadas, pertinentes a uma sociedade saudável”, explica a pesquisadora.
(Com informações da Agência Brasil)

Entrevista com a piscóloga Jaqueline Lopes

Existe uma idade ideal para que as crianças comecem a consumir esses conteúdos? No que se refere a idade ideal, precisamos considerar a cultura, os valores e costumes da família. Hoje vemos situações de crianças de um e dois anos que já manipulam o celular na escolha dos vídeos com uma capacidade antes inimaginável. O convite que deixo é para que os pais se perguntem qual a necessidade deles de permitir que seus filhos tenham acesso a essa tecnologia, independentemente da idade. E que se atentem a qualidade do tempo que dedicam a esses filhos. 

Quando os pais devem entrar em alerta? O alerta está relacionado a observação dos comportamentos. Como ele está? Triste, ansioso ou agitado. As crianças são muito verdadeiras e em sua maioria, muito transparentes quanto as suas emoções, principalmente se vivem em um ambiente acolhedor, de respeito e carinho. Ao menor sinal de mudanças no comportamento do seu filho, seja na escola, nos hábitos alimentares, sono, ou qualquer outra queixa, procure ajuda de um profissional.

Quais as dicas para que a relação das crianças com a internet não ultrapasse o que é considerado saudável? A sociedade da forma como é organizada hoje, com pais e mães ausentes por conta do trabalho e demais atividades, tendem a suprir essa ausência através da permissividade, de presentes e a falta de limites. Devemos impor limites, mas também ser exemplo. Uma questão importante se refere a crítica que devemos ter sobre como nós também estamos vivenciando essa tecnologia. Temos a necessidade do registro em vídeos e fotos que acontecem em uma viagem, em um show e, nessas situações, perde-se a vivência do momento, o registro de memória afetiva.