Mudança de perfil

Pacientes internados sem doenças preexistentes mais que dobram em Betim

Índice de pacientes internados subiu de 25% em 2020 para 34% neste ano

Publicado em 24 de junho de 2021 | 23:27

 
 
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Embora a maioria das pessoas internadas e que morrem por Covid-19 tenha algum tipo de comorbidade, um levantamento recente feito pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Betim mostra que, neste ano, o número de hospitalizações e óbitos de pacientes sem doenças preexistentes com coronavírus cresceu no município.

O quantitativo de pacientes sem comorbidades internado no SUS Betim e nas unidades da rede privada subiu de 372, de abril a dezembro de 2020, para 800, de janeiro a 8 de junho deste ano. Isso representa um aumento de 25,1% para 34,1% do total de pessoas hospitalizadas nesses mesmos períodos. Já o número de pessoas sem doenças preexistentes que faleceram em decorrência do novo vírus passou de 42 para 75 casos, nos mesmos períodos analisados em 2020 e 2021.

Enfermeira que desde março do ano passado faz o acompanhamento técnico dos pacientes internados nos Cecovids 2 e 4, Nova Jersey de Oliveira salientou que essa mudança do perfil dos pacientes internados é bem evidente.

Segundo ela, em 2020, quando houve o primeiro pico da doença, a predominância de pedidos de hospitalização era, em sua maioria, de idosos com comorbidades, principalmente, acometidos por doenças renais, diabetes, hipertensão e doenças pulmonares preexistentes.

“Agora, percebemos um aumento das internações de pessoas com menos de 50 anos e de jovens sem nenhum histórico de doenças preexistentes, que estão evoluindo para o estado grave da doença”, relatou a enfermeira.

Praticante assíduo de várias modalidades esportivas desde a adolescência, Leandro Tizzo, 35, é um exemplo de como este vírus tem acometido também as pessoas sem nenhuma doença prévia. Apesar de tomar os cuidados e respeitar as medidas de proteção contra a doença, ele foi infectado depois que o pai, com quem ele trabalha, pegou o vírus. O betinense ficou internado por 5 dias e ficou com 72% do pulmão comprometido. 

“Logo depois que ele testou positivo, comecei a apresentar dor no corpo e febre. Mas como jogo futebol, corro e faço musculação, achei que poderia ser isso. Quando fui ao médico, ele disse que eu estava com 10% do pulmão comprometido e que poderia me tratar em casa. Mas, uma semana depois, comecei a sentir falta de ar e, ao retornar ao hospital, tive uma piora do meu quadro e fui entubado por 5 dias. Meu pulmão chegou a 72% de comprometimento e minha saturação foi a 42%”, contou o betinense.

Sem nenhuma doença preexistente, o funcionário público Leandro Trindade, 41, também ficou 20 dias internado no Cecovid. “Foram dias muito difíceis. Por isso, é tão triste ver as pessoas andando sem máscaras, lotando os restaurantes, como aconteceu no Dia dos Namorados. Qualquer um pode contrair a doença”, contou.

Segundo o secretário de Assistência da Saúde de Betim, Hilton Soares, apesar de não haver dados estatísticos que expliquem o aumento de casos de internação por Covid de pessoas mais jovens sem comorbidades, um estudo que vem sendo realizado na cidade, pela prefeitura em parceria com a UFMG, aponta que este novo cenário pode ter relação com a circulação de novas variantes do coranavírus mais agressivas.

“Dados referentes ao controle epidemiológico da doença no município também sinalizam que o avanço da vacinação contra a doença no país, que prioriza pessoas de mais idade, conforme define o Plano Nacional de Imunização (PNI), pode estar contribuindo para a diminuição do agravamento da doença em idosos e os óbitos. Isso só reforça a importância de a população aderir à vacinação e manter os cuidados para prevenir a propagação da Covid, como higienizar as mãos com água e sabão ou com álcool 70%, usar máscara e manter o distanciamento social”, salientou Soares.