Alerta

Trotes representam 10% das ligações feitas ao Samu em Betim

Diante da gravidade do problema, prefeitura lançou uma campanha para conscientizar a população

Publicado em 14 de julho de 2021 | 19:51

 
 
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Era uma tarde, quando um dos médicos reguladores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Betim atendeu o telefone de emergência do 192. Do outro lado da linha, uma menina que dizia ter 10 anos e que se identificava como Carmem, ao prantos, afirmava que a mãe, que teria problema cardíaco, estava caída no chão, sem respirar. Prontamente, um equipe da Unidade de Suporte Avançado (USA) foi enviada, sem, contudo, encontrar o endereço informado. Novos contatos foram feitos para o telefone usado pela criança, mas a garota não atendia. Passados alguns minutos, ela ligou novamente, chorando e pedindo socorro, e conseguiu fazer com que uma Unidade de Suporte Básico (UBS) fosse empenhada para o atendimento, sem sucesso, mais uma vez. Com o objetivo de realizar o atendimento à paciente, uma terceira equipe foi mobilizada, até que um senhor atendeu o telefone da residência. 

“Quando questionamos sobre a ocorrência, ele disse para a médica reguladora que não havia ninguém passando mal na casa e que nenhuma Carmem morava na residência, mas informou que a neta, de 10 anos, estava no imóvel. Quando a médica falou o que tinha ocorrido, o homem disse que ela não devia se importar e que aquilo não passava de uma brincadeira de criança. Porém, só neste atendimento, perdemos mais de 1 hora, tempo suficiente para assistir, no mínimo, três pacientes que realmente precisavam dos nossos serviços”, relatou Liliane Tavares Lima, médica coordenadora do Samu Betim. 

Situações como essa, ocorrida em 2016, lamentavelmente, até hoje fazem parte da rotina do serviço de emergência do Samu Betim. Prova disso é que um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Saúde identificou que, de uma média mensal de 4.000 ligações com pedidos de atendimentos recebidos pelo Samu (192), em 2020, cerca de 400 eram falsas – o que representa 10% das chamadas.

“Na maioria das vezes, as ligações são feitas por crianças, em ambiente escolar e por meio de telefone público, o que não diminui a gravidade da situação, já que temos uma linha ocupada enquanto alguém está realmente precisando de atendimento. Isso prejudica toda a população e pode significar a perda de vidas”, ponderou o gerente do Samu Betim, Nick Douglas.

Campanha

Para tentar inibir e sensibilizar a população sobre a gravidade deste tipo de “brincadeira de mal gosto”, a Prefeitura de Betim lançou, nesta semana, uma campanha midiática contra os trotes ao Samu que, segundo o diretor de Urgência e Emergência da Saúde de Betim, Wesley Vieira Andrade, não diminuíram na pandemia da Covid-19.

“Apesar de muitas famílias estarem por um período maior em casa, o que poderia, em tese, evitar trotes feitos por crianças, a média mensal desse tipo de trote ao longo de 2020 tem se mantido de janeiro a junho deste ano”, revelou o diretor. 

Para a empresária Geisa Teliene, 33, que perdeu o pai em 2020 após ele sofrer uma parada cardiorrespiratória em casa, a iniciativa é de extrema importância. “Infelizmente, no caso do meu pai, não havia mais solução, já que ele estava morto quando as equipes chegaram. Mas penso em outras famílias que possam precisar do serviço”, lamentou a betinense. 

Punição

Mais do que apenas uma brincadeira infeliz, o acionamento indevido dos serviços telefônicos de atendimento a emergências relativos a remoções ou resgates, combate a incêndios ou ocorrências policiais em Minas Gerais são considerados, infração administrativa, conforme Lei nº 22.452, sancionada, em dezembro de 2016. 

Pela legislação mineira, caso seja comprovada a infração, o responsável pelo trote pode ser punido com multa de até 500 Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais (Ufemgs), o que pode chegar R$ 1.972.