CPI Lama

'Lama trouxe enormes prejuízos pra Betim’, afirmam gestores

Só com maquinário e mão de obra foram gastos R$ 2 milhões dos cofres públicos; ao todo, 2,5 milhões de m³ de área foram afetados

Publicado em 21 de abril de 2022 | 19:01

 
 
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A Câmara de Betim realizou, na última segunda (18), a segunda oitiva da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que visa apurar possíveis crimes ambientais e contra a saúde pública, além de danos materiais e morais ocasionados pela invasão de lama que teria rejeitos de minério em imóveis e vias públicas próximas ao rio Paraopeba durante as fortes chuvas de janeiro. 

Na segunda oitiva da CPI, a presidente da Empresa de Construções, Obras, Serviços, Projetos, Transportes e Trânsito de Betim (Ecos) – órgão subordinado à prefeitura –, Marinésia Makatsuru, chamou a atenção para os prejuízos financeiros gerados pela lama aos cofres municipais. 

“Somente com maquinário e mão de obra para retirar, até agora, quase 20 mil toneladas de lama contaminada das casas e das vias públicas, a prefeitura teve que desembolsar cerca de R$ 2 milhões. Mas há muito o que se fazer, pois existe ainda um enorme volume de lama na região que precisar ser retirado”, afirma a presidente da Ecos.

Segundo Marinésia, a prefeitura está levantando o prejuízo total e irá encaminhar para a CPI da Lama um relatório com os dados nos próximos dias. “Esse prejuízo para o município é infinitamente maior, já que, para auxiliar os atingidos, a prefeitura realizou outras ações, como distribuir alimentos e materiais de higiene pessoal”, diz a gestora. 

O secretário de Meio Ambiente, Ednard Tolomeu, que também depôs na CPI da Lama na segunda (18), destaca que um levantamento feito com drone pela comissão multidisciplicar da prefeitura para acompanhar os impactos da tragédia na cidade apontou que 2,5 milhões de m³ de área em Betim foram atingidos pela lama, o que equivale a quase 250 campos de futebol do tamanho do existente no Estádio do Mineirão. 

“O município contratou ainda uma perícia particular que está realizando a análise físico-química e a sondagem da lama que invadiu os imóveis. Com a primeira, será detectado se há metais pesados na lama. Já com a segunda, descobriremos o volume de lama total”, explica o secretário municipal de Meio Ambiente ao ressaltar que o resultado final da perícia deve ficar pronto até julho.

Crimes denunciados

Em janeiro, o Citrolândia foi inundado pelo rio Paraopeba, que levou barro e lama para ruas e casas da região. Moradores, na época, declararam que a lama espessa, grudenta e de aspecto diferente – da cor do minério – nunca tinha invadido as casas. Dezenas de famílias perderam tudo. Além disso, há relatos moradores com sintomas como febre, coceira, alergia e outros, que teriam sido causados pela lama com rejeito.

Já o laudo de um estudo feito pela Prefeitura de Brumadinho, em parceria com os municípios de Mário Campos, São Joaquim de Bicas e Juatuba, apontou quantidade acima do aceitável de ferro e manganês presente na água do Paraopeba, além de outros elementos químicos, como alumínio, silício, magnésio e ferro, encontrados em quantidade acima do permitido por lei na lama. 

A Vale diz que realizou a coleta de material para análise e está conduzindo uma avaliação técnica sobre os eventuais efeitos causados pelos alagamentos ocorridos. A mineradora reforça que, em janeiro de 2022, atendeu e executou diversas solicitações do poder público de municípios da Bacia do Paraopeba.

Próxima oitiva

Nesta segunda (25), a partir das 14h, no Legislativo municipal, ocorrerá a terceira oitiva da CPI da Lama. Na ocasião, devem ser ouvidos o secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico de Betim, Alexandre Bambirra, a secretária municipal de Assistência Social, Sandra Morais de Queiroz, além do secretário de Saúde de Betim, Augusto Viana, e do tenente-coronel Walfrido Lopes, superintendente da Defesa Civil. 

Para o presidente da CPI da Lama, vereador Professor Wellington (PSC), o trabalho da comissão, até agora, tem sido bastante consistente. “Estamos juntando os elementos que serão utilizados posteriormente para provocar judicialmente a Vale caso sejam comprovados os possíveis crimes apontados. Mas, pelo que foi apresentado até o momento, já constatamos que essa lama ocasionou enorme prejuízo para a cidade”, diz.