Ao menos 47 famílias que moram às margens do rio Paraopeba, na região do Citrolândia, e que tiveram a estrutura de suas casas condenada após elas terem sido invadidas pelo mar de lama que veio à tona com as enchentes causadas pelas fortes chuvas de janeiro, ficaram desalojadas e terão que ter seus imóveis demolidos. As informações são do secretário de Ordenamento Territorial e Habitação de Betim, Marco Túlio Freitas, depoente ouvido na sexta oitiva da CPI da Lama, realizada na Câmara de Betim e que apura possíveis crimes ambientais e contra a saúde provocados por essa lama, que teria rejeitos de minério.
“Esses são os números que o município tem até agora, mas, como a Defesa Civil de Betim ainda está revisando ocorrências relativas às enchentes de janeiro e novas visitas estão sendo agendadas pelo órgão municipal, esses números ainda podem alterar”, frisa Freitas.
Para o secretário municipal, o rastro de destruição causado pelas enchentes do início do ano na cidade, sobretudo na região do Citrolândia, teria sido potencializado, principalmente pelo assoreamento do Paraopeba. “Antes, quando havia algum alagamento e alguma enchente, a água baixava e as famílias, após a limpeza, podiam retornar para as suas casas. Mas, desta vez, há relatos de que a água trouxe lama, entupindo parte da rede hidráulica das casas, condenando de forma irreversível esses imóveis”, destaca Freitas.
O gestor explica ainda que as 47 famílias que ficaram desalojadas foram inseridas no programa de auxílio habitacional do município, onde permanecem até hoje. “Ao todo, o município tem um custo mensal de cerca de R$ 28.200 com esses auxílios”, informa.
O secretário municipal afirma também que, para dar suporte às famílias atingidas, 90% do corpo técnico da pasta foi mobilizado. “Dadas as proporções do que ocorreu, tivemos que fazer um mutirão para prestar auxílio às famílias e evitar que danos maiores pudessem ocorrer. Ainda adquirimos botas, capas, enfim, todos os equipamentos necessários para que as equipes da prefeitura pudessem prestar auxílio e tivessem condições de enfrentar a chuva e a lama”, pontua Freitas.
Ao ser questionado sobre se houve algum suporte por parte da mineradora Vale, o gestor, assim como as autoridades municipais ouvidas em oitivas anteriores na CPI da Lama, diz que não houve apoio da empresa.
Na quarta (25), às 14h, ocorrerá a sétima oitiva da CPI da Lama. Na ocasião, a diretora da Casa de Saúde Santa Izabel, unidade gerida pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Elaine Daniela, deve ser ouvida.
Por meio de nota, a Vale declara que em janeiro atendeu a diversas solicitações do Poder Público de municípios da Bacia do Paraopeba, em caráter humanitário, e que “todas as demandas solicitadas e acordadas com as prefeituras já foram executadas para atendimento emergencial”.
Contudo, em quinta oitiva realizada pela CPI da Lama, o diretor de reparação e desenvolvimento da Vale, Marcelo da Silva Klein, admitiu que o suporte dado a Betim foi “tímido”. “Nosso perímetro prioritário foi aquele que poderia ter sido mais impactado pela nossa presença. Betim, de fato, não estava nele”, disse.