Abril azul

Assistência aos autistas é tema de audiência pública em Betim

Famílias relataram principais demandas; mês é dedicado à conscientização do espectro, que afeta 1% da população mundial

Publicado em 27 de abril de 2023 | 16:14

 
 
Debate fez parte da programação do mês dedicado à conscientização sobre o transtorno e reuniu representantes do Legislativo, do Executivo e, principalmente, da sociedade civil Debate fez parte da programação do mês dedicado à conscientização sobre o transtorno e reuniu representantes do Legislativo, do Executivo e, principalmente, da sociedade civil Foto: Ronaldo Silveira
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Atualmente, estima-se que 1% da população mundial seja autista. Dados recentes apontam que a cada 36 pessoas, uma tenha a deficiência. O balanço foi apresentado durante uma audiência pública realizada na Câmara Municipal de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, nessa quarta-feira (26). O debate fez parte da programação do mês dedicado à conscientização sobre o transtorno e reuniu representantes do Legislativo, do Executivo e, principalmente, da sociedade civil para tratar da assistência aos pacientes e também aos seus familiares.

“Ficamos muito felizes porque, apesar do horário noturno, que não é fácil para algumas pessoas, tivemos o plenário totalmente lotado. Isso só reforça o quanto a comunidade dos autistas – e dos deficientes, como um todo – está clamando por ajuda. Essas pessoas precisam de apoio e de carinho”, pontuou o vereador Professor Alexandre Xeréu (PROS), que requereu a realização da audiência.

Um dos depoimentos mais emocionantes foi o da dona de casa Michelle Soares, de 42 anos, moradora do bairro Estância do Sereno. Ao investigar o comportamento da filha, Lavínia, atualmente com 7 anos, ela não apenas chegou ao diagnóstico de autismo da menina como ao seu próprio, há cerca de um ano e meio. “No entanto, preferi focar na saúde da minha filha. Infelizmente, a gente precisa escolher entre fazer o próprio tratamento e tratar a criança”, lamenta Michelle. 

Segundo a pediatra Cibele Bento, a realização de audiências como a desta semana é fundamental justamente para que a informação se torne acessível à população e ao poder público, e para que as famílias sejam amparadas em suas necessidades. “É preciso haver uma intervenção efetiva para promover uma melhor interação dessas pessoas com a sociedade”, disse Cibele.

Na prática

A presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência e conselheira seccional da OAB/MG, Michelly Siqueira, frisou outro ponto: “Apesar de termos leis muito avançadas, nosso maior desafio ainda é fazer com que elas sejam cumpridas. Esse momento aqui é muito importante para que as famílias e o poder público se conectem para, de fato, fazerem a lei chegar na ponta”, alertou a advogada.

Pai do jovem autista Guilherme, de 12 anos, o vigilante Adolfo da Costa, de 50, reiterou a importância de haver debates entre governantes, legisladores e sociedade civil com mais frequência. “Quando um filho nasce, a gente sabe das nossas obrigações, mas dos nossos direitos, não. É muito bom quando abrem esse espaço. Precisamos mais falar do que ouvir”, concluiu.

“Apesar de haver muitas coisas no município que ajudam o autista, ainda precisamos avançar”, completou a servidora municipal Júnia Amaral, de 44 anos, mãe de Giovanna, de 18, que é autista.

Espectro também foi pauta na ALMG

A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) também promoveu uma audiência pública nessa quarta (26) para falar do autismo, atendendo a um requerimento do presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, deputado Dr. Maurício (Novo).

Em pauta, estava a necessidade de as pessoas autistas falarem por si próprias, uma demanda antiga de ativistas autistas. “Precisamos acabar com a crença de que a pessoa com deficiência tem de ser consertada para estar no mundo”, chamou a atenção a adestradora de cães Adriana Ferreira, de 50 anos. Diagnosticada com o transtorno tardiamente, aos 47, ela contou como foi viver em um mundo neurotípico, precisando fingir ser quem não era para ser aceita.

A diretora-presidente do Centro Especializado Nossa Senhora D’Assumpção (Censa Betim), Natália Costa, também esteve presente na audiência e ressaltou que o autismo não deve ser encarado como uma doença a ser curada, mas, sim, como uma condição. Ela ainda levantou uma questão preocupante: “Quem cuida das pessoas que precisam dessa assistência quando o cuidador envelhece ou morre? O Estado precisa oferecer estrutura para que aqueles que precisam de auxílio não sejam abandonados”, frisou Natália.