Oncologia pediátrica

Audiência pública debate implantação de tratamento em Betim

Hoje, crianças em tratamento da doença precisam ir até BH

Publicado em 08 de março de 2023 | 20:15

 
 
Audiência pública reuniu políticos, dirigentes e sociedade civil no plenário Camilo Saraiva, na Câmara Municipal de Betim Audiência pública reuniu políticos, dirigentes e sociedade civil no plenário Camilo Saraiva, na Câmara Municipal de Betim Foto: Ronaldo Silveira
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Representantes da sociedade civil, de organizações não governamentais, do Legislativo e do Executivo participaram de uma audiência pública na Câmara Municipal de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (8), para debater a possibilidade de crianças com câncer poderem ser atendidas e tratadas no próprio município, sem a necessidade de se deslocarem para Belo Horizonte, como acontece atualmente.

A audiência foi requerida pelo vereador Professor Wellington (PSC), que preside a Comissão Permanente de Saúde da Casa. “Esse é um gargalo do município. Ai dessas famílias se não fossem as instituições existentes na cidade para dar suporte a elas”, afirmou o parlamentar no início do debate.

Um dos idealizadores do projeto assistencial Apadrinhe uma Infância, criado há cerca de três décadas, Anísio Isidoro frisou a importância de haver políticas públicas voltadas para o diagnóstico precoce, fundamental para que mais vidas possam ser salvas. “Em 27 anos de trabalho, tivemos muitas conquistas e muitas perdas. Então, concluímos que está na hora de retomarmos a discussão”, pontuou, destacando que, somente neste ano, oito crianças morreram em decorrência do câncer na cidade. 

Também presente no debate, a presidente da Organização Regional de Combate ao Câncer (Orcca), Goretti Ássimos, ressaltou o impacto da enfermidade não apenas na vida dos pacientes, mas na de familiares, amigos e colegas de trabalho. “O câncer não é uma doença, é um fenômeno social porque afeta todas as pessoas do entorno”. 

Segundo Goretti, Betim possui um excelente tratamento de radioterapia, mas ele ainda não é acessível a todos os tipos de câncer. “A doença precisa de especialistas, mas a radioterapia, não. Todos deveriam poder se tratar na cidade. Muita gente interrompe o tratamento porque não tem dinheiro para pagar o transporte para BH”. “A gente que lida com paciente oncológico fica engasgado. Quando encontramos uma oportunidade, queremos aproveitá-la para falar”, completou a dirigente da Orcca.

Comoção

Um dos depoimentos mais emocionantes da audiência foi o da dona de casa Danielle Ferreira dos Santos, moradora da Colônia Santa Isabel. Há quatro anos e meio, ela perdeu a filha, Samara, de 11 anos, para um tumor de Wilms - também conhecido como nefroblastoma, o tipo de tumor renal mais comum na infância. 

Em seu relato sobre a luta pela vida da criança, Danielle apontou pontos falhos e pediu mais engajamento na causa, além da empatia de profissionais que estão na linha de frente do atendimento. “Mães não têm diploma médico, mas têm muito conhecimento sobre os seus filhos”, ressaltou.

O secretário municipal de Saúde, Cláudio Arruda, concordou que é preciso haver mais humanização no Sistema Único de Saúde (SUS) e assumiu o compromisso de buscar soluções para as demandas apresentadas na sede do Legislativo betinense nesta quarta-feira. 

“Profissionais da oncologia pediátrica são difíceis de serem encontrados não apenas em Betim, mas em vários outros municípios. Vamos iniciar uma conversa com o Hospital Evangélico - responsável pelos atendimentos dessa especialidade na cidade - para verificarmos a viabilidade de termos, dentro do mesmo contrato, a oncologia pediátrica. Precisamos levar essa questão até o prefeito e o procurador geral do município para que sejam avaliados também os impactos financeiro e assistencial”, concluiu Arruda.

De acordo com a diretora de Regulação, Controle e Avaliação do SUS Betim, Rafaela Coura, Betim tem, hoje, 50 crianças e jovens (menores de 18 anos) com diagnóstico positivo para câncer.