Informalidade de subsistência

‘Bico’ nos sinais é saída para muitos

Sem emprego, mas com contas a pagar e, muitas vezes, família pra sustentar, trabalhadores informais abordam motoristas nos sinais da região central de Betim

Publicado em 20 de agosto de 2022 | 13:04

 
 
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A taxa de informalidade no mercado de trabalho brasileiro bateu recorde no trimestre encerrado em maio último: 39,1 milhões de pessoas, conforme aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O número é 2,1% maior do que o do trimestre anterior e 39,5% superior ao do mesmo período de 2021. Entre os informais, aparece uma subcategoria bastante conhecida, a dos “bicos”. Na luta diária pela sobrevivência, muitos trabalhadores passam despercebidos, mesmo quando batem nas janelas dos carros para oferecer produtos ou serviços. O Tempo Betim conta as histórias de alguns deles.

Em busca de trabalho e do sonho

Acostumado a trabalhar em canteiros de obras, Maciel Alves do Amaral, de 27 anos, está em Betim há apenas nove meses. Natural de Três Marias, na região Central de Minas Gerais, ele ainda não conseguiu emprego na cidade. Para manter a família – esposa e quatro filhos –, ele começou a limpar para-brisas nos semáforos junto com o amigo e vizinho Samuel da Silva, que já trabalhava com o “rodinho”, como eles dizem. Segundo ele, a maior dificuldade é arcar com os custos de deslocamento do Citrolândia até o Centro, já que nem sempre o dinheiro que entra é suficiente. “Meu sonho é tirar carteira para dirigir caminhão. Pode ser de lixo, de areia, qualquer coisa. Quero trabalhar com isso e, depois, comprar um carro pra mim”, revela Maciel, sem esconder o entusiasmo com seus planos.

‘Rodinho’ esconde a timidez

Foi Samuel da Silva, de 27 anos, que levou Maciel para lavar para-brisas na região central da cidade. Natural de Sabará, na região metropolitana, ele está em Betim há cinco anos. Ele e um casal de irmãos vivem com a mãe no Citrolândia e enfrentam dificuldades para arcar com todas as despesas. Para contribuir com a renda da família, Samuel começou a vender balas nas ruas. Sem muito sucesso, ele resolveu apostar no “rodinho”. “Eu trabalhava em obra, mas fiquei desempregado e precisei fazer outras coisas. Tem meses que são bons, mas outros nem tanto”. Com uma trajetória semelhante à do parceiro de trabalho nos semáforos, Samuel também compartilha o sonho de ser um motorista profissional. No caso dele, porém, a vontade é dirigir ônibus e sair do aperto de uma vez por todas. “Eu acho que deve ser muito bom trabalhar levando as pessoas. É o que eu quero fazer”, ressalta.

Luta diária pela família

Quem costuma passar pela ponte da avenida Edmeia Mattos Lazzarotti que dá acesso à rua Amin Fares Debian, no Centro de Betim, sabe que Sibele Aparecida da Silva, de 45 anos, é presença constante no local.  A vendedora de balas costuma chegar ao local por volta das 8h30 e ficar até as 17h. Todos os dias – inclusive nos fins de semana –, ela enfrenta sol, chuva e frio para conseguir pagar o aluguel social da casa em que vive, no Citrolândia, e sustentar os três filhos que também moram lá (ela tem  cinco, ao todo, além de três netos). “Tenho uma filha que é especial. Graças a Deus, muita gente me ajuda com doações de roupas, utensílios e até móveis. Nem sempre consigo o dinheiro todo que preciso aqui no sinal”, lamenta. Cibele lembra que os primeiros dois anos da pandemia foram ainda mais difíceis, já que menos pessoas estavam circulando. Hoje, com a situação um pouco melhor, ela sonha com a quitação do imóvel onde mora.

Baiano em solo mineiro

Nascido em Ilhéus, na Bahia, Antônio da Silva, de 43 anos, vive há quase três décadas em Betim. Há quatro anos – desde que a mãe, de 80, também veio morar  na cidade –, ele vende sacos de pano alvejado nos semáforos da região central para sobreviver. Dono de uma simpatia ímpar, ele garante que gosta muito do que faz e que se adaptou bem à mudança de endereço. “Só é ruim aqui não ter praia”, pontua, com bom humor. Segundo Antônio, a maioria das pessoas que ele aborda no sinal respeitam o trabalho dele e retribuem com gentileza. “Passo aperto, mas pago as contas”, diz, revelando o sonho de ter uma casa própria.