A morte do advogado Gilberto Marques de Sá, aos 64 anos, nessa sexta (14), chamou a atenção para um inimigo pouco conhecido, mas bastante nocivo: o fungo Sporothrix, causador da esporotricose, doença que vitimou o ex-presidente da OAB Betim. Comumente atribuída aos gatos – que, de fato, são um dos transmissores –, a contaminação também pode ocorrer por meio da mordedura e da arranhadura de cães e tatus, por exemplo, ou simplesmente pelo contato de um ferimento da pele com a terra contaminada (a patologia, inclusive, é popularmente chamada de “doença do jardineiro” por essa razão).
Segundo a veterinária Carolina Gouveia, a infecção em humanos é pouco frequente devido à adoção de medidas profiláticas que contribuem para o controle da disseminação do fungo. Já os animais que têm acesso à terra e/ou que se envolvem em brigas na rua tornam-se vulneráveis. “A esporotricose é mais comum nos felinos, pois, além das mordidas, levam muitas arranhaduras durante as disputas territorialistas com outros animais, e unhas contaminadas causam a infecção. Daí a necessidade de se controlar o acesso dos animais domésticos à rua”, frisa a profissional, ressaltando que os gatos não são vilões, mas, sim, vítimas.
De acordo com a veterinária, um dos agravantes em relação à doença é o fato de os animais saudáveis carregarem o fungo nas unhas e na boca, dificultando a identificação do perigo, já que não são percebidas lesões suspeitas.
Considerada uma patologia grave, a esporotricose, na maioria das vezes, causa feridas na pele. “Mas existe também a forma sistêmica, que é ainda mais grave, pois acomete todos os órgãos do animal/humano”, ressalta Carolina. Foi o que ocorreu com o advogado Gilberto de Sá. Ele passou 35 dias internado no Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, em Belo Horizonte, mas não resistiu às complicações da doença.
Apesar do alarde que a esporotricose costuma causar, a veterinária chama a atenção para a importância do tratamento, que não é breve, mas pode, sim, ser bem-sucedido e evoluir para a cura. “O problema, às vezes, é não dar tempo de tratar. Por isso a necessidade de se procurar atendimento médico – ou, no caso do animal, veterinário – rapidamente. Quanto antes instituirmos o tratamento, maiores serão as chances de sucesso”, diz a profissional.
O diagnóstico é feito por meio de citologia de pele, quando existem lesões, ou por exame de sangue (indicado apenas nas formas disseminadas, já que pode haver um resultado falso negativo no tipo cutâneo). Já o tratamento é feito com a administração de antifúngicos orais por pelo menos três meses, além de medicamentos para tratar os demais sintomas e também para proteger o fígado. “O antifúngico é bem forte. Se não houver o controle devido, o animal pode morrer em decorrência de uma insuficiência hepática”, ressalta Carolina.
A principal forma de se prevenir a esporotricose é a utilização de equipamentos de proteção durante o manuseio de material proveniente do solo, bem como o uso de calçados em trabalhos rurais. Evitar que os animais domésticos tenham acesso à rua e briguem com outros também é fundamental, além de jamais abandonar um bicho doente, o que contribui com a disseminação da doença.