O próximo domingo (29) é o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase. A data reforça a conscientização de que a doença tem tratamento e quebra preconceitos acerca da enfermidade. Para reforçar ainda mais essas mensagens, ao longo desta semana Betim realizou a 29ª edição do Concerto contra o Preconceito, que contou com ações culturais e educativas em Betim, na região metropolitana de BH. A programação vai até domingo.
A hanseníase é uma doença bacteriana que afeta primariamente a pele e os nervos. De acordo com a dermatologista do Centro de Especialidades Médicas Divino Braga, Deborah Chaves, na pele, a doença se manifesta com manchas que podem ser brancas, amarronzadas e vermelhas. Podem também surgir caroços e infiltrações (áreas vermelhas elevadas). “A característica mais importante dessas lesões é a diminuição da sensibilidade ao frio, ao calor, à dor e ao tato, além de dormência e formigamentos”, explica.
Pacientes com a doença também podem apresentar queda dos pelos das sobrancelhas, sensação de nariz entupido e diminuição da sensibilidade e/ou perda da força muscular dos pés e mãos.
Mas a médica explica que a hanseníase tem cura, e o tratamento é feito com antibióticos fornecidos gratuitamente pelo SUS. “É importante que o paciente siga o tratamento de maneira regular até o fim, para que se cure de forma definitiva”, diz.
Preconceito
A doença já foi vista com olhares de repulsa. No século passado, quando ainda não se tinha tratamento, nem informações, pessoas diagnosticadas com hanseníase eram obrigadas a ficar isoladas em colônias afastadas dos centros urbanos. A Colônia Santa Isabel, construída na década de 1920, foi uma delas.
Esse isolamento gerou estigmas que ainda hoje precisam ser quebrados. Porém, para o Coordenador do Centro de Memória da Hanseníase Luiz Veganin, Hélio Dutra, Betim avançou no tratamento contra a doença. Mas ele alerta que é importante as pessoas ficarem atentas quanto aos sintomas para um diagnóstico precoce.
“A mensagem que nós temos é de uma história de superação, dor, preconceito e sofrimento. O mundo mudou, a hanseníase mudou e, mesmo com todas as modernidades, ainda existem casos novos de hanseníase no Brasil. Betim avançou em relação às taxas de casos novos de hanseníase, mas é preciso ficar atento aos sinais e se proteger”, diz.
Maior museu sobre a hanseníase
Andar pelo Centro de Memória e Ação Luiz Veganin, na Colônia Santa Isabel, o maior museu do país sobre a hanseníase, é entender melhor como foi a vivência dos hansenianos que moravam nos sanatórios e nas casas da região.
No espaço, há equipamentos usados para o tratamento dos pacientes, peças da época, artefatos, fotos, além de objetos de uso individual e coletivo dos pacientes de hanseníase que passaram pela Colônia Santa Isabel no período de isolamento social.
De acordo com Hélio Dutra, coordenador da unidade, a cultura cumpriu um papel importante na vida dos internos durante o isolamento. O museu mostra um pouco disso, além de oferecer uma área para a promoção de ações culturais, reuniões e palestras.
“Foi a realização de um grande sonho. Durante anos, fiquei recolhendo os objetos da história da Colônia Santa Isabel, aguardando que um dia tivéssemos um lugar definitivo para preservação e exposição dessa importante história.
Representantes da comunidade e do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) também fazem parte dos trabalhos desenvolvidos no museu.
O Centro de Memória e Ação Luiz Veganin fica na rua Emílio Ribas, 570, na Colônia Santa Isabel. O funcionamento é de segunda a sexta, das 8h às 17h, porém visitas aos sábados e domingos podem ser agendadas pelo telefone (31) 99634-5614. A entrada é gratuita.
Vida na Colônia vira livro
Os traumas e a luta por ter sido internado com apenas 12 anos viraram livro e filme. Essa é a história de Nelson Pereira Flores, hoje com 79 anos. A obra literária, chamada “A Rosa e o Machado: memórias de um brasileiro excluído”, já está pronta e será lançada ainda no primeiro semestre deste ano.
A história virou documentário nas mãos da cineasta e jornalista Elizabete Martins Campos. “É interessante os caminhos que a vida proporciona pra gente. Quando eu iria imaginar que a história da minha vida, da vida da minha família e dos meus companheiros se transformaria em um documentário?”, comentou Nelson em 2021, quando o documentário foi produzido. O projeto do filho, Thiago Flores, é lançar um longa-metragem no futuro.
Confira a programação do fim de semana no 'Concerto Contra o Preconceito':
As ações iniciadas na segunda-feira continuam nesta sexta, no sábado e no domingo, na praça da Matriz. Nesta sexta, será a vez da Noite Gospel, a partir das 19h, com shows de Jean Luca, João Eduardo e Banda e David Quinlan.
No sábado, a cantora Sandra de Sá sobe ao palco, encerrando a programação do dia, que começa às 17h. E, no domingo, as atividades terão início com uma missa às 8h e seguirão durante todo o dia.