Entrevista

Foi meia hora tentando tirar ela da boca dos pit-bulls, conta tia de bebê morta

Ataque dos cães ocorreu nessa quarta (4), no Icaivera, em Betim; mulher também saiu machucada; dono dos animais foi preso

Publicado em 05 de outubro de 2023 | 19:12

 
 
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Depois de receber alta hospitalar, nesta quinta-feira (5), Joice Caroline Soares Dias, tia da criança de 1 ano e 5 meses que morreu após ser atacada por dois cães da raça pit-bull, nessa quarta-feira (4), no bairro Icaivera, em Betim, na região metropolitana de BH, concedeu entrevista ao O Tempo Betim.

À reportagem, a mulher de 25 anos, que também ficou bastante machucada por causa das mordidas dos cães, afirmou que ficou quase "meia hora tentando tirar Luiza da boca dos cachorros". "Eles não soltavam", lamentou Joice. 

A tia da menina contou ainda que, durante o ataque dos animais, pediu ajuda ao proprietário do imóvel em que ela mora, que reside na parte de cima da casa, mas, segundo Joice, o homem teria sido omisso.

"Eu gritei por ajuda. Ele foi lá, olhou. O moço que mora na frente também, mas ninguém me ajudou. Falou que não tinha como fazer nada. E ele falou que me avisou por eu ter pit-bull em casa. Ou seja, eu tive que me virar sozinha. E eu não consegui ajuda de ninguém, sendo que foi gente lá com pedra na mão, que poderia ter me ajudado, mas ninguém me ajudou", acusou Joice.

À reportagem, a tia da criança também negou que cria pit-bulls para serem comercializados. "A gente tinha os cachorros. Realmente, eles deram cria, mas ele [o proprietário do imóvel] não pode provar nada. Eu não vendo cachorros", defendeu-se. 

A mulher afirmou ainda que a sobrinha sempre vai à casa dela e que os dois pit-bulls são dóceis. De acordo com ela, o dono do imóvel "fazia maldade com os cachorros". "Pode ser que isso aconteça em um momento de fúria dos cachorros, pode ter sido isso. Ele jogava água e as coisas nos meus cachorros quando eu saía. Mas a Luiza sempre foi lá pra casa e sempre foi bem-recebida pelos cachorros. Eles nunca avançaram nela. Nesse dia, eu até estranhei, porque eles chegaram a avançar em mim", afirmou a tia, que disse ter Ozzy há três anos e Dandara há dois.  

A mulher relembrou que, no momento do ataque, varria a casa com os pit-bulls cercados para não morderem ninguém. "A Luiza saiu, e eu não consegui segurar ele, que simplesmentee atacou ela. Eu me joguei por cima, mas não consegui", lamentou, aos prantos. 

A mãe da menina que morreu, Helen Eduarda, lamentou a morte da filha única. "O que ficou foi um pedaço de mim aqui. Não dá para explicar", disparou ainda no cemitério.

Ex-mulher do proprietário do imóvel, Florisbela Onésio Martins, de 57 anos, defendeu o ex-companheiro, de 61 anos. A mulher, que também mora no imóvel, afirmou que os pit-bulls são bravos e que, por temerem a presença deles no local, o ex já ofereceu a tia da criança e ao dono dos cães pagar um aluguel para eles se mudarem para outra residência.

"Conheço ele há mais de 30 anos e, tenho certeza, ele nunca deixaria de ajudar a socorrer as duas. O que aconteceu, na verdade, foi que ele estava deitado, porque tem problema de saúde, e pode não ter escutado o ataque na hora. Mas quando as pessoas pularam o muro, ele desceu e foi lá ajudar. Ele me contou que ajudou a tiraram a mulher e a criança da boca dos cachorros. Nunca vi ele maltrarar os pit-bulls. Mas temos uma neta de 7 anos, e tínhamos medo dos cães. Por isso, queríamos que eles se mudassem", afirmou Florisbela. 

A reportagem tentou conversar com o proprietário do imóvel, mas ele disse apenas que estava muito chateado com o que aconteceu, e não quis dar entrevista. 

A tragédia

De acordo com a Polícia Militar (PM), por volta de 16h, populares acionaram a corporação na base local pedindo ajuda para desvencilhar os cachorros das vítimas.

Quando os policiais chegaram até a residência, os animais teriam tentado atacá-los. Os militares atiraram em um dos cachorros, que morreu no local. O outro foi contido pelo dono da casa, que era alugada, e ficou preso dentro de um cômodo.

Tia e criança foram socorridas para uma Unidade de Pronto-Atendimento em Contagem. A mulher estava consciente, mas com escoriações pelo corpo e fraturas nos braços. Já a criança estava desacordada e ferida em todo o corpo. A menina chegou a ser socorrida com vida, mas não resistiu aos ferimentos.

Ainda segundo a PM, os dois cachorros pertencem ao marido da mulher e ficavam isolados por uma cerca de pallet. No entanto, eles pularam o espaço e atacaram primeiramente a menina, que estava no colo da mulher, e, depois, a jovem. A tia ainda tentou se desvencilhar dos animais, mas não conseguiu até a chegada dos militares.

O homem, de 30 anos, dono dos animais, foi preso em flagrante, está à disposição da Justiça e pode responder por homicídio culposo. 

Com Sara Lira e Nelson Batista