'De mãe pra mãe'

O peso da solidão e da sobrecarga materna

Mulheres enfrentam desafios no maternar e psicóloga fala sobre a importância da rede de apoio

Publicado em 06 de maio de 2022 | 12:18

 
 
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Existe um provérbio africano que diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Faz sentido, mas, infelizmente, a realidade está distante disso.

Neste Dia das Mães, além das homenagens, muitos debates têm sido levantados, principalmente nas redes sociais, em relação à romantização da maternidade. As reflexões propostas são embasadas na realidade diversa de mulheres que têm em comum a maternidade.

Quando um bebê nasce, muitas dúvidas e medos surgem. A amamentação e a privação do sono geram insegurança, e a rotina acaba mudando. O tempo passa, e um banho mais demorado continua sendo quase impossível. A alimentação segue comprometida, e o convívio social já não é o mesmo. 

A mãe precisa se doar inteiramente nos primeiros meses e, com isso, além da exaustão, surge a solidão, tão comum durante o puerpério – que, em muitos casos, perdura meses a fio.

Pandemia
O debate quanto à desigualdade de gênero quando o assunto é a criação dos filhos nas famílias brasileiras ganhou ainda mais impacto no cenário da pandemia. Mais de 83% das mulheres, por exemplo, afirmam que sentiram sobrecarga em cuidar dos filhos. 

O índice foi revelado por um levantamento da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), que mapeou, em 2021, os impactos da quarentena nas vidas das mães das cinco regiões do país.

A grande questão é: como mudar ou amenizar isso? Políticas públicas são urgentes, mas a psicóloga Marluce Rezende pontua que é importante validar e acolher o fato de que muitas transformações ocorrem na vida de uma mulher quando ela tem filhos: “A sociedade contemporânea romantiza o processo de ser mãe, mas a realidade é outra. São mudanças no corpo, nas emoções, nas relações sociais. Solidão, expectativas frustradas, distanciamento, dificuldades em cuidar da vida pessoal, pois, neste momento, o filho é prioridade”.

Segundo ela, além da importância da rede de apoio, que não é uma realidade para muitas mulheres, para amenizar tantas mudanças, é necessário se preparar emocionalmente. “As alternativas que sugiro envolvem a participação de grupos de apoio com mães experientes, além de tentar envolver uma maior participação da família. O pré-natal completo é importante para o corpo, para as emoções, para um encontro saudável e prazeroso com a nova identidade – ser mãe”, diz.