Reflexo

Pandemia da Covid-19 aumenta a sobrecarga das mulheres

Pesquisa aponta que 41% das entrevistadas afirmaram estar trabalhando mais com o isolamento social

Publicado em 04 de março de 2021 | 22:32

 
 
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Há um ano, famílias de todo o mundo sofrem com os impactos da pandemia da Covid-19 no dia a dia, e buscam alternativas para que a vida siga o fluxo apesar do isolamento social. Para a maioria das mulheres, que já precisavam fazer malabarismos para dar conta do cuidado com a casa, dos filhos e conciliar o lado profissional, o cenário ficou ainda mais complexo com o acúmulo de tarefas diárias.

No Dia da Mulher, comemorado na próxima segunda-feira (8), alguns dados podem ajudar a compreender essa realidade. Um levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas Mulheres – entidade internacional que luta em defesa dos direitos das mulheres – destacou que, além de estarem mais expostas ao vírus por representarem 70% dos profissionais da área de saúde no mundo, elas estão mais sobrecarregadas com tarefas domésticas e cuidados com outros membros da família. 

Outra pesquisa, realizada pela Sempreviva Organização Feminista (SOF) com 2.641 entrevistadas, mostrou que 50% das mulheres brasileiras passaram a ser responsáveis pelo cuidado de um idoso ou de uma criança nesse período. Ainda segundo o levantamento, 41% afirmaram trabalhar mais na quarentena. E, para 40% delas, o isolamento social colocou em risco o sustento dos lares.

Dentre todos os desafios enfrentados nesse período, a microempreendedora e mãe de uma criança de 7 anos, Mônica dos Santos Ribeiro Gervasio precisou aprender a dividir o tempo entre a loja e o filho, além dos cuidados básicos com a casa, com a alimentação e com a família. Entre um cliente e outro, ela ajuda o pequeno Davy Luccas, que estuda em um espaço da loja. 

Enquanto ela cuida de uma loja na região central, o marido trabalha em outra e, embora a situação financeira também tenha saído do eixo com a queda nas vendas, para ela, o que mais pesa é garantir que o filho não sofra impactos psicológicos e emocionais. “Além dos gastos com a escola, tivemos que comprar um notebook e investir em uma internet com melhor qualidade. Mas a minha maior preocupação é que ele esteja bem e feliz. Tento me manter calma e ter paciência mesmo diante de tudo isso para que não respingue nele meu cansaço e preocupação”, destacou.

Colaboração
Para a professora Cristina Alves de Melo Moreira, a adaptação da rotina com as aulas virtuais também foi um desafio. Casada e mãe de dois filhos já maiores de idade, ela precisou contar com a colaboração de todos para que o trabalho fluísse. “Fiz da minha sala de jantar a sala de aula e, para que desse certo, eles tiveram que se adequar aos meus horários. Hoje todos já se acostumaram e sabem que, durante as aulas, o silêncio deve predominar”, contou.

Segundo ela, embora o marido sempre tenha cumprido suas funções nos cuidados com a casa, nesse período, ele acabou se responsabilizando ainda mais por outras tarefas, o que a ajudou muito a se concentrar no trabalho. “Passei por momentos difíceis na pandemia, mas o lado emocional é o mais complicado. Meu pai precisou ser internado e, no dia, havia uma comemoração de um aniversário na minha turma. Estava muito triste, mas encontrei forças para me arrumar, colocar um sorriso no rosto e oferecer o meu melhor aos meus alunos”, recordou.
 

Buscar ajuda para garantir a saúde mental nesse período é primordial

O reflexo dessa sobrecarga que as mulheres vêm enfrentando na pandemia já estão refletindo na saúde mental de muitas delas. De acordo com a psicóloga Jéssica Marcela Campos Bessoni, que atua na área há 7 anos, além do volume de mulheres buscando processo terapêutico ser maior em seu consultório, a correlação entre suas demandas e o isolamento social é mais acentuada, se comparada aos homens.

Dentre os principais diagnósticos estão crises de ansiedade, irritabilidade, sensação de desamparo e esgotamento físico e emocional. “Percebo que a desigualdade, no que diz respeito às atividades domésticas e aos cuidado com os filhos está acentuada durante a pandemia, trazendo para a mulher, maior responsabilização na rotina de cuidadora”, pontuou Jéssica. 

Segundo ela, apesar de desafiador, é possível amenizar esse peso com pontos estratégicos direcionados ao auto- cuidado. “Focar na prática de exercícios físicos, na realização de atividades de lazer, na construção de uma rede de apoio e n a divisão das atividades domésticas, é essencial. Além disso, o processo terapêutico é um grande aliado ao auto -cuidado”, frisou.