Antes de tomar a difícil decisão de abandonar a Venezuela e mudar-se para o Brasil pra tentar uma vida nova com o marido e os dois filhos, Indriani Yulibeth, de 37 anos, e a sua família viveram momentos de muita dor e sofrimento em sua terra natal. Há quase dez anos em recessão, a nação venezuelana, comandada pelo ditador Nicolás Maduro, enfrenta crises severas, como alta inflacionária diária, que afeta a economia do país, migração em massa da sua população e desabastecimento de alimentos, remédios e itens básicos.
“A situação lá está muito difícil. Com o salário não dá para comer. Com o meu salário e o do meu marido, só conseguíamos comprar um pacote de farinha por mês. Imagina isso para uma família com quatro pessoas? Teve semanas que passamos comendo mangas colhidas na rua. Por isso, decidimos sair de lá. Não dava mais. Íamos morrer de fome”, conta ela.
Em 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, Indriani abandonou a Venezuela. Depois de ficarem cinco dias andando a pé e pegando carona com estranhos, ela e o marido desembarcaram na cidade de Pacaraima, em Roraima. De lá, foram de avião para Belo Horizonte e, pouco tempo depois, mudaram-se para Betim.
“Na capital, não conseguimos emprego. Daí, fomos acolhidos na casa de uma senhora em Betim. Aqui, meu marido conseguiu um trabalho de auxiliar de produção em uma empresa de química, e eu fui contratada pra trabalhar na filial do laboratório Souza Aguiar, no bairro Teresópolis, onde estou há quase dois anos”, revela a técnica em patologia que, na Venezuela, era servidora efetiva no Ministério da Saúde.
Para ajudar imigrantes e refugiados que, assim como Indriani, vêm para o Brasil pra tentar uma melhor condição de vida, a prefeitura, por meio da Superintendência de Trabalho, Emprego e Renda (Seter), desenvolve, desde 2019, o Programa de Inserção do Imigrante e Refugiado no Mercado de Trabalho.
Por meio da ação, essas pessoas que buscam o órgão de forma espontânea para encontrar uma vaga de emprego são cadastradas na Seter, órgão municipal que atua como um “elo” com as empresas da cidade para encaminhar a população pra entrevistas de emprego.
Em cinco anos, por meio do programa municipal, mais de 120 imigrantes foram atendidos e indicados a fazer entrevistas em empresas de Betim e região.
“Queremos ampliar esse projeto para as dez regionais de Betim. A ideia é atender os imigrantes e os refugiados nessas filiais. Lá, cadastraremos, faremos a pré-seleção e encaminharemos essas pessoas para pleitear uma vaga no mercado de trabalho da região. Mas pretendemos atender toda a população nesses locais. Em breve, vamos abrir esse primeiro braço da superintendência no bairro Teresópolis e, depois, partiremos para o Citrolândia”, revelou o titular da Seter, Tarcísio Pimentel.
Tia e sobrinha, as venezuelanas Ingrid Vanessa, de 33 anos, Yocelin Ribeiro, de 18, também encontram em Betim uma oportunidade de recomeço. As duas, depois de decidirem sair da Venezuela, foram contratadas na cidade, na padaria Nutrivida. No caso de Vanessa, depois de quatro meses trabalhando no estabelecimento como atendente, foi promovida a coordenadora da padaria.
“Gosto muito daqui. Amo o que faço”, diz Vanessa, que é taxativa ao pontuar a maior dificuldade enfrentada no Brasil desde que chegou. “Foi muito difícil me adaptar à língua. As pessoas têm dificuldade de entender o que a gente fala, perdem a paciência”, desabafa a venezuelana.
Proprietária da padaria, Vânia Viana elogia o desempenho das funcionárias estrangeiras – o estabelecimento tem hoje dez trabalhadoras imigrantes. “Eles são dedicados, comprometidos e muito simpáticos e educados com os clientes”, afirma.
Na proteção social básica
A Superintendência de Programas Sociais através da gestão do Cadastro Único na unidade central e nos Centros de Referência em Assistência Social (Cras) Descentralizados, Imigrante e refugiados são inscritos no Cadastro Único para tentar obter benefícios assistenciais e programas de transferência de renda, como o programa Bolsa Família.
Há também o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para atender crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos para trocas de culturas e vivências, fortalecer vínculos familiares, desenvolver o sentimento de pertencimento e incentivar a socialização e a convivência comunitária. Já o Serviço de Proteção e Atendimento Integral às Famílias (PAIF) acolhe e orienta esses grupos sobre os benefícios sociais que eles têm direitos.
Albergue Vitor Braighi
A unidade de acolhimento oferece alimento, higienização e dormitório para migrantes que estão de passagem por Betim durante 72 horas.
Saúde
A pasta faz o cadastro dessas pessoas para que possam acessar o SUS, sensibilizando as equipes quanto ao acompanhamento de saúde. O município elaborou ainda uma cartilha com orientações em espanhol, que foram distribuídas nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) onde as populações de imigrantes estão cadastradas.
Educação
Em Betim, a maior concentração de alunos imigrantes na rede municipal está na Escola Municipal José Salustiano Lara, no bairro Bandeirinhas. A Secretaria Municipal da Educação, juntamente com a direção da unidade escolar, desenvolve projetos para acolher e incluir os alunos. A Semed está elaborando ainda uma proposta pedagógica para os migrantes em toda a rede municipal. Os professores serão orientados sobre o trabalho pedagógico realizado no cotidiano da educação infantil e do ensino fundamental.