CNH

Reprovação em exames de direção em Betim chega a 60,5%

Só 10.768 motoristas tiraram a CNH do total de 29.354 avaliações aplicadas em 2022

Publicado em 09 de setembro de 2023 | 09:00

 
 
Sirlene Reis abriu duas pautas e gastou R$ 12 mil pra tirar a CNH, conquistada na 11ª tentativa Sirlene Reis abriu duas pautas e gastou R$ 12 mil pra tirar a CNH, conquistada na 11ª tentativa Foto: Ronaldo SIlveira/ O Tempo
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Por dez vezes, a profissional da beleza Sirlene dos Reis Gomes, de 43 anos, fez exames de rua para tirar a carteira de motorista. No período, ela gastou cerca de R$ 12 mil em aulas de legislação e direção e, somente na 11ª tentativa, conquistou a tão sonhada Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

“A gente vai para o exame confiante que sabe dirigir. Mas, na hora, dá um branco, fica travada. A maioria dos examinadores faz uma pressão enorme e, muitas vezes, eles nos chamam a atenção por faltas que não são eliminatórias. Com isso, ficamos tão nervosos que iniciamos uma sequência de erros. Mas, graças a Deus, mesmo com as dificuldades, com duas pautas abertas e, depois de anos de tentativas, não desisti do meu sonho e conquistei a minha carteira”, agradece. 

Assim como Sirlene, muitos betinenses sofrem para fazer a avaliação de rua pra obterem a CNH.

Prova disso é que dados da Coordenadoria Estadual de Gestão do Trânsito (CET-MG), órgão da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag-MG), mostram que o índice de reprovação de exames da prática veicular em Betim no ano passado chegou a 60,56% – dos 29.354 exames de direção aplicados, 10.768 motoristas conquistaram a carteira, 17.777 foram reprovados e 809 candidatos se ausentaram do exame – em Minas, no mesmo ano, a taxa de reprovação foi de 62,91%.

Motivos

Segundo o consultor jurídico Filipe Batista Leão, esse alto índice está vinculado a um conjunto de fatores, como o despreparo de se acreditar que o número mínimo das aulas exigidas por lei é suficiente e o nervosismo do aluno na hora de fazer o exame.

“Mas há também outras questões que contribuem para esse alto índice de reprovação, como a falta de qualificação de muitas autoescolas para oferecer uma preparação adequada aos candidatos, o rigor no momento do exame e a falta de formação contínua pelo Detran, o que garantiria a qualificação dos motoristas e o aprimoramento dos instrutores”, avalia o advogado.

Atualmente, a carga horária para a obtenção da primeira habilitação nas categorias A ou B é de, no mínimo, 20 horas/aula, sendo que pelo menos uma aula deve ser realizada no período noturno.

Leão avalia que esse número mínimo de horas/aulas é suficiente para o aprendizado necessário pra realização do exame prático de direção veicular, mas critica a falta de avaliação pelos Centros de Formação de Condutores sobre a necessidade, ou não, de o candidato realizar horas/aulas complementares. 

“Essas aulas seriam um parâmetro para avaliar a preparação mínima dos candidatos para o exame. Observa-se, assim, uma pratica de se realizar o exame apenas com o número mínimo de horas aulas, não se avaliando a real preparação do candidato”, criticou o advogado ao defender o rigor no exame de direção.

“Com esse rigor, busca-se garantir condutores hábeis para o cotidiano e evita-se mais acidentes de trânsito”, frisou. 

Instrutor de autoescola há três anos, Júlio Cezar da Silva defende o trabalho desenvolvido pelos Centros de Formação de Condutores e avalia que o alto índice de reprovação dos candidato está, sobretudo, relacionado com ao fator emocional dos alunos.

“Muitas das vezes, já no processo de aprendizagem, os alunos começam a ficar ansiosos, o que faz com que eles acabem não tendo um bom desempenho na hora do exame por não conseguirem aplicar tudo aquilo que aprenderam. Os alunos precisam entender que o processo de aprendizagem é muito mais importante do que o resultado no dia do exame”, afirma.

Exame monitorado poderia oferecer mais transparência 

Muitos especialistas defendem que a instalação de equipados com câmeras e microfones nos veículos usados para a realização das provas de rua seria uma foram de dar mais transparência no processo.

“São medidas que ofereceriam avaliações mais precisas, trariam uma melhoria na segurança da condução de veículos e aprimorariam e padronizam a educação para os candidatos”, frisa o consultor jurídico Felipe Leão.

A Seplag-MG, por meio da Coordenadoria Estadual de Gestão de Trânsito (CET-MG), informa que, desde 20 de junho, quando assumiu as competências do Detran-MG, analisa novas tecnologias disponíveis no mercado para aprimorar os serviços de trânsito no Estado.