Um servidor público de Betim, na região metropolitana de BH, acusa um supermercado da cidade de injúria racial após ele ter sido abordado por funcionários do estabelecimento que o chamaram de “ladrão”. O fato aconteceu na noite dessa segunda-feira (7).
Em um boletim de ocorrência registrado pela vítima, Rodrigo Alves de Carvalho, de 39 anos, relatou que, ao sair do supermercado, foi abordado na porta do supermercado por três pessoas que seriam colaboradores do estabelecimento. Conforme ele detalhou, um dos funcionários perguntou: “Onde estão os itens que você roubou, ladrão? Tenho imagens suas da câmera de segurança”. Após afirmar isso, o homem teria ameaçado chamar os “amigos policiais”.
A vítima contou que, além de responder que não havia pegado nada, abriu sua mochila para comprovar o que havia acabado de dizer, e o que viram foram o uniforme de trabalho do homem e a marmita que ele leva para o serviço.
Em seguida, uma viatura da PM chegou ao local, e os policiais foram até o estabelecimento para verificar as filmagens, segundo o boletim de ocorrência. Os militares então retornaram e perguntaram a Rodrigo se ele já havia cometido algum crime, e, mais uma vez, ele respondeu “não”.
O boletim diz ainda que os policiais explicaram que compareceram ao estabelecimento porque foram acionados, já que as imagens das câmeras de segurança mostravam alguém com “certa similaridade” a Rodrigo levando os itens.
A partir desse momento, de acordo com o registro da ocorrência, um colaborador conversou em separado com um dos policiais e informou que o estabelecimento não tinha mais interesse em registrar um boletim de ocorrência contra Rodrigo. “O policial me disse para ir até uma base móvel, onde lavrei um boletim de ocorrência mostrando tudo o que aconteceu”, contou ele à reportagem.
“É muito triste a gente ser avaliado pela cor da pele, pelos trajes da gente. Ser acusado de ladrão é muito pesado, muito feio, muito triste. Me acusaram de ladrão e não apresentaram provas. Sequer me pediram desculpas pelo que fizeram comigo. Simplesmente sumiram para dentro do supermercado, e eu fiquei com esse sentimento triste e correndo atrás do que acho que é direito meu e de toda comunidade negra, de todo o cidadão que se sente ofendido sem ter feito nada”, disse o homem, que concluiu perguntando: “Vou ter que pedir uma pessoa branca, de terno, para entrar no supermercado pra fazer uma compra pra mim? Se a gente não tomar uma providência, buscar por meios legais, fica difícil. O que eu espero agora é justiça”, asseverou.
O ex-vereador e administrador Ademar Soares testemunhou as acusações feitas ao servidor público e se solidarizou com Rodrigo. “Eu o incentivei a registrar um boletim de ocorrência e o acompanhei até a base móvel da polícia. Depois, fomos à Câmara para fazer uma moção de repúdio, que espero que seja assinada por todos os vereadores. Ele ficou muito constrangido, e eu me comovi com tudo que ele passou. Ninguém merece esse tipo de tratamento. Temos que acabar com qualquer tipo de preconceito e racismo”, disse Ademar, que foi vereador entre 2004 e 2012.
De acordo com Ademar, lideranças e integrantes de movimentos negros estão sendo acionadas para participar de um protesto em frente ao supermercado na próxima sexta-feira (11).
A reportagem de O Tempo Betim não conseguiu falar com o supermercado.