Dois anos após um deslizamento de terra durante as fortes chuvas de janeiro de 2020 ter soterrado e matado duas pessoas no Beco Fagundes, no Jardim Teresópolis, em Betim, na região metropolitana, muitos moradores da região que temem o risco de novos desabamentos de imóveis por causa da movimentação do solo que permanece na região, decidiram deixar suas casas.
Das 27 famílias que estavam na região em dezembro, nesta semana, somente sete resistem em permanecer. Em dezembro, a Justiça de Minas havia determinado a demolição de casas e de dois prédios no beco, uma decisão que foi contestada pela comunidade e que, hoje, encontra-se suspensa até 12 de janeiro, quando ocorrerá uma audiência de conciliação para discutir a situação. A decisão judicial teve como base laudos da Defesa Civil e de um perito independente contratado pela Justiça, que apontou que a região está sob alto risco geológico.
Deivison Silva foi um dos moradores que optaram por deixar a casa em que morava com o filho e a esposa, no Beco Fagundes, há 20 anos. Para ele, ao deixar o imóvel, ele não está pensando na situação financeira, mas, sim, na vida de sua família, que ele estará salvando caso uma nova tragédia aconteça no local.
"Sabemos como foi a luta para construirmos nossas casas, mas estamos saindo hoje por segurança. A tragédia ocorrida aqui em 2020 pegou a gente de surpresa. A chuva está voltando neste ano mais forte, e optamos por sair. A Justiça deu o prazo pra gente sair e levar nossas coisas, o que estamos fazendo. Tenho que agradecer demais a Deus por ter meu filho e minha esposa do meu lado. Nada aconteceu com a nossa família, e eu tive chance e apoio para tirá-los daqui", frisa.
Moradora do beco Fagundes há 39 anos, Liliane dos Santos Diniz Felipe é outra moradora que decidiu deixar sua casa. Há dois anos, quando a tragédia ocorreu no beco, ela e a mãe tiveram os imóveis interditados, e, desde então, elas vivem em outra residência, por meio do aluguel social oferecido pela prefeitura.
"Sempre recebemos o benefício. Nesta semana, retiramos tudo o que podíamos, já que não dá pra morar lá. Tenho uma história naquela casa, mas não podíamos continuar morando em um imóvel que está com toda a estrutura abalada. Preferimos sair do que arriscar e morrer soterrado", pondera.
Robemar Egídio, de 40 anos, também se mudou com sua esposa, do Beco Fagundes, nesta semana. "Eles falaram que tinham que sair. Tentamos, mas não conseguimos reverter. Então decidimos sair. Vamos morar de aluguel no São Caetano e com expectativa da prefeitura nos ajudar com o aluguel", disse.
Em entrevista ao programa "Alerta Super", da Rádio Super 91,7 FM, o secretário adjunto de Segurança Pública de Betim, Júlio Cézar Rachel de Paula, disse que, diante da determinação judicial, a prefeitura se reuniu com as famílias atingidas para explicar a situação e oferecer todo o suporte necessário para que a retirada dos moradores do local seja feita da maneira pacífica possível.
"Os estudos e os laudos feitos mostram que a situação do beco é extrema. A cada dia que passa, as pessoas que querem permanecer lá aumentam o risco de serem vítimas de uma tragédia. E é exatamente isso que não queremos. Estamos tentando conscientizar as pessoas e oferecendo condições de elas irem para outros locais para não serem, eventualmente, vítimas de outra tragédia", salienta.
Entre as principais soluções oferecidas pelo município às famílias que ainda moram lá está a inclusão delas no Programa de Auxílio Habitacional, com a entrega de moradias na região do Citrolândia. Há ainda a opção de aguardar a conclusão de outras unidades habitacionais no bairro Vila Cristina e, enquanto isso, ter acesso ao aluguel social.
Para o Frei Gilvander Moreira, da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), ao tentar retirar as famílias, alegando risco geológico sem comprovação, estão cometendo uma "injustiça". "As famílias que estão aqui, a maioria, há 40 anos, estão em uma área plana, distante da encosta e sem nenhuma rachadura. O beco é asfaltado. Nos dois últimos anos, não houve novos deslizamentos. Eles têm que respeitar a comunidade. Tem que ter laudo geológico, imparcial, independente e idôneo. Senão, tem que parar com esse terrorismo que está sendo feito aqui ", afirmou.
Alguns deles, como é o caso de Zélia Rodrigues da Cunha, de 42 anos, que mora no local desde que nasceu, afirmaram que não vão sair das residências. “Não é justo sairmos das nossas casas. Queremos é receber indenização”, diz ela.
Eliane Dias, de 41 anos, também se recusa a sair do beco. Segundo ela, o ideal seria que fosse construído no local um muro de contenção, uma obra que, para ela, impediria novos deslizamentos. “Podem trazer qualquer documento, que assinamos. Mesmo se cair terra, não vai atingir as nossas casas. Só queremos o que é nosso, não pedimos nada pra ninguém”, disse.
A Prefeitura de Betim esclareceu que em nenhum momento apresentou aos moradores a proposta de construção de um muro de contenção na região e que estudos feitos mostram que a área não suporta peso, sendo inviável a colocação de concreto no local.